"A humanidade ao longo do tempo vem utilizando sua inteligência, curiosidade e criatividade para descobrir, inventar, transformar e aperfeiçoar materiais, recursos e ideias com o objetivo de proteger-se e garantir a sobrevivência, a qualidade de vida da sociedade em geral. Chegou para a educação a vez de mostrar a sua relevância."Felice Leonardo Buscaglia, mais conhecido como Leo Buscaglia, escritor nova-iorquino nascido em 1924, filho de imigrantes italianos, teve grande prestígio no século passado. Seu primeiro livro – “Amor”– foi um sucesso extraordinário, elevando-o à condição de pioneiro da literatura de autoajuda. No entanto, pouca gente sabe que ele começou a vida como professor e pedagogo de prestígio. Ele conta em um de seus livros o que tinha de fazer para driblar o “MEC local” quando precisava mostrar sua maneira para ensinar melhor. Buscaglia usava um método diferenciado: matemática, língua e artes eram disciplinas ensinadas de forma prática com a cooperação e participação de todos os alunos. Ele inventou um supermercado fictício no qual as crianças criavam produtos com argila, papel, madeira e outros materiais (artes e trabalhos manuais), faziam bancadas com sobras de produtos para simular um ambiente de negócios e se revezavam no papel de vendedores e compradores, como se estivessem num mercado verdadeiro. Os alunos deveriam mostrar que sabiam fazer todas as contas para comprar e vender. Da mesma forma, a língua inglesa era ensinada com o uso de campanhas publicitárias por meio da comunicação escrita e da propaganda oral. Toda a programação tinha como base um mercado imaginário, que contemplava semanalmente diferentes acontecimentos da realidade local para provocar o poder criativo dos alunos. Inicialmente as outras classes reclamavam pelo barulho e algazarra das aulas de Buscaglia. Tendo em vista, porém, o bom desempenho dos estudantes nas avaliações, a escola passou a usar o mesmo método. Havia, no entanto, um problema quase insuperável, quando os fiscais de ensino da prefeitura passavam para verificar se os programas estavam sendo cumpridos. Aí acontecia uma grande correria para desmanchar as bancadas e inventar relatórios escritos para burlar a fiscalização. Sabemos que os embates com a burocracia ocorrem até os dias atuais, pois a prioridade continua sendo o cumprimento do que está no papel em vez do valor das experiências inovadoras. Inovar em educação é sempre difícil porque tal caminho enfrenta resistências dos acomodados, dos que têm horror a mudanças. Com isso, impede-se que bons projetos vinguem, cria-se toda a espécie de questionamentos – “não há verba no orçamento”, “a ideia é boa, mas envolve riscos”, “fulano já fez e não deu certo”, “as famílias dos alunos vão reclamar” – tal como observa o publicitário brasileiro Alex Periscinoto em “99 maneiras de matar uma ideia”. Antonio Carlos Teixeira, um papa brasileiro em inovação e criatividade, tem algumas instigantes reflexões, em especial para o setor educacional:
“Por que, muitas vezes, é tão difícil pensar diferente e implantar a gestão da inovação? O que nos impede de transformar novas ideias em novos negócios? Na escola, quais são os fatores que atrapalham e os que ajudam a inovação? Qual é o ambiente mais adequado para aplicar o Processo Criativo? Como criar um clima mais favorável às novas ideias? Que comportamentos e atitudes deverão ser evitados? Desestimulam a criatividade e a inovação a excessiva preocupação com um programa engessado, o medo de tentar novas alternativas, o "sempre fizemos assim" e as punições por erros? A escola prioriza o empenho total dos professores na busca de melhores maneiras de transmitir o conhecimento ou fazer tudo funcionar sem problemas, sem surpresas, na mesmice?”Para ele, os erros e os fracassos são vistos como partes de um processo que integra a aprendizagem e que por isso não devem ser reprimidos nem punidos. E pergunta: “Os diretores e os orientadores ouvem críticas e questionamentos sobre normas e tabus? Ao invés de dizerem ‘não’, aceitam o ‘por que não?’, permitem que as pessoas perguntem: ‘E se...?’” Segundo Teixeira, muitas escolas já identificaram a importância da criatividade e da inovação como diferencial competitivo. E estão dispostas a tratá-las como um sistema e não como ocorrências eventuais. Porém, na hora de fazer as mudanças, as dúvidas aparecem, em função não só da maior ou menor dificuldade em aceitar a criatividade e inovação como também do clima organizacional que pode gerar pessoas motivadas (pode também acontecer o contrário) para criar ideias inovadoras. Um provocador, além de perguntar “e daí?”, acrescentaria outras indagações: Quem faz ou deixa de fazer, “quando” acontece, “como” e “porque” que surge? Existem condicionantes para que o processo de inovação ocorra? Qualquer um é capaz de inovar? Qual é o combustível da inovação: ser criativo e colaborativo? Encontrar ambiência ou, ao contrário, buscar a solitude, o retiro e desprezar a característica essencial da nova geração e dos novos tempos? Marcelo Pimenta, professor da Pós-Graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e criador do Laboratorium, faz as seguintes perguntas: “Como faço para inovar se meu chefe não suporta inovação? Minha empresa não gosta de nada novo, tenho medo até de expor minhas ideias, o que eu faço? Em ambientes que não são propícios à inovação, vale a sabedoria popular: ‘comer o mingau pelas beiradas, como sopa quente’.” O mundo está repleto de “inovações” exequíveis; algumas nem tanto. Muitas delas vão para as prateleiras e /ou para as gavetas infernais do esquecimento. O inovador conta com o “impulso de consumo”, com a fantasia, além da mágica do brilho, do mais barato, do mais colorido, do mais saboroso, do mais duradouro, do mais impressionante e do mais útil. É só adicionar outras centenas de adjetivações e alguém encontrará a “sua” resposta. Resta saber se a aceitação do novo deve ser unanimidade. Voltando para a área educação, perguntamos: o que de novo e de inovador surgiu nas últimas décadas? E respondemos: nada, se comparado à tecnologia digital, porque a sala de aula continua a mesma. O professor, que deveria ser o ator responsável pelas mudanças “no” e “do” planeta, continua “tentando” convencer os alunos sobre a sua “verdade-realidade”. Usa ainda a velha lousa e o caduco giz que perduram como se fossem inovações definitivas. Um grande desafio se apresenta aos dos tempos atuais. Os que não inovarem na área educacional irão cavar o seu próprio fim. É só analisar a pesquisa feita pelo Porvir (Já parou para pensar em como será a escola em 2032?), para perceber o “quê” e o “como” pensam os jovens universitários. Do mesmo modo, os estudos de Silvia Regina Cezar, consultora de Marketing do Grupo Estácio, devem ser também objeto de nossas análises. Cezar aborda as tendências e desafios do setor educacional universitário para os próximos anos dentre os quais se destacam: integração do modelo de aprendizagem híbrida, evolução da aprendizagem online, sala de aula invertida, learning analytics, gamefication, aplicativos móveis, laboratórios remotos e virtuais. Assim, a tecnologia dominará totalmente o ambiente da sala de aula – este é um processo irreversível – e os desafios serão imensos para quem quiser permanecer vivo no setor tais como controlar a elevadíssima evasão, estreitar a barreira tecnológica existente entre professores e alunos e competir num mercado acirradíssimo inteiramente comoditizado. Então, como trabalhar com a inovação útil, promissora, efetiva e desenvolvedora de outras inovações? Este é um caminho que dirigentes e professores precisarão conhecer e percorrer. A esse respeito, lembro meu pai que dizia – “Inventores de moda precisam contar com três elementos quais sejam tempo, crédito e ferramentas. Se faltar um deles não dará certo”. Importante também é conhecer as interrelações entre inventividade, criação e inovação. Segundo o verbete do dicionarista Houaiss, inovação é decorrente da inventividade, que cria e que, portanto, inova. Simples assim? Na prática não é tão simples assim. Para começar, vale a pergunta: É o mercado que inova criando novas ocupações e funções ou são as escolas que devem sair na vanguarda criando e inovando em todas as áreas de formação, tornando-se detentoras de novas habilidades e competências? Esta é uma boa discussão e assunto para outros artigos. Importante, no entanto, afirmar que escolas e mercado têm como missão incrementar inovações em todas as suas atividades.